To Professor Manolo
and Arthur Nogueira, aos cuidados da Radio Bandeirantes:
Não consigo entender o
raciocínio que leva a considerar que os juros são fator de contenção da
inflação. Muito pelo contrario, o aumento de juros tem uma relação direta com a
expansão monetária. Não ha milagre nessa
relação conspícua na que o dinheiro é expressão contábil da riqueza de um país.
Consideremos que essa riqueza é representada
por um baú lotado com 100 quilos de papel. Essa expressão de riqueza foi
empapada pelo BC e foi ungida pelo dogma da confiança. Pelo método da partida
dobrada, a sociedade deverá registrar todo
esse papelão na conta do DEBE ao BC. O BC adquire, como todo bom credor, a razão
de dono legítimo de todos os bens da sociedade. Os bens reais da sociedade
estão sujeitos a variações em função de muitos fatores, incluindo entre eles os
juros. O conteúdo do baú é inelástico, não estica, porque o espaço está
saturado com a correspondência ao valor médio real, e não encolhe nem estica por
muito que flutue o preço das berinjelas, das batatas, do tomate ou dos ovos.
Conhecemos a boa disposição do credor a nunca rebaixar o conteúdo do baú que
com tanto esmero guarda ao lado da tabla da lei.
Por uma explicação
simplista e conveniente da arquitetura política econômica, os juros embaraçam o
consumo de bens e serviços, logo, um aperto na garganta dos consumidores
provocará um desequilíbrio entre a oferta e a demanda, fazendo que a economia
retorne aos trilhos. Esta é a explicação formal para o aumento dos juros. Ocorre
que a GUARDA do baú não está no depósito do consumidor. Ela é guardada a sete
chaves no bunker do BC, o qual, por sua vez, está amarrado com grilhões ao BM.
Do lado do débito não há
o que fazer, só apertar o cinto e evitar que o atraco entre pela goela. A
GUARDA do baú não está no depósito do consumidor. Ele é guardado a sete chaves
no bunker do BC, o qual, por sua vez, está amarrado com grilhões ao BM. Os
credores, voluntariamente, jamais queimariam quantidade de papel guardado no
baú para retornar a condição de equilíbrio.
Na condição de
Equilíbrio estável, partindo do mesmo raciocínio, os juros deveriam estar
contidos na taxa zero. É adotando essa condição de equilíbrio estável que este
humilde colega tece suas modestas considerações.
Pelo poder arbitrário
de quem crê que pode sacar vantagem na conta do credor, os juros para os
devedores são fixados em 15% da massa albergada no baú (não esqueçamos que a
media CELIC dos últimos 20 anos ultrapassa essa media).
Houve uma época em que
o professor Delfin ficava contente ao ver como um famoso dirigente sindical
determinava a inflação anual pela soma aritmética da inflação mensal. Mesmo assim,
no mês de maio lhe aplicava um corretivo aos salários para deixá-los bem aquém da
inflação equivocada do futuro presidente.
O BC é muito mais preciso
no cálculo do seu crédito. Á taxa anual de 15% (não esqueçamos que essa taxa é mensal nos
cartões de crédito rotativo), em cinco anos o consumidor tem na conta do DÉBITO
o baú inicial (principal), mais OUTRO BAÚ (ainda mais pesado) pelo conto dos
juros calculados exponencialmente com base nos 15%.
Cálculos são cálculos,
e se os juízes determinam que a dívida tenha que ser paga, a decisão tem que
ser exercida, com acordo ou sem acordo.
O problema, que
ninguém quer considerar, está no fato de que se toda a riqueza do país tem, no
seu equivalente papel contábil, todo o conteúdo albergado em um baú, de donde
os devedores van sacar papel para encher o segundo baú?
Com minha atrevida insolência
me atrevo a adiantar a resposta do querido professor Manolo e a do não menos
querido jornalista econômico Artur Nogueira. O BC tem o dom de, em um chispar
de dedos e da noite para o dia, imprimir papel suficiente para encher o segundo baú e mais outros
que forem necessários para justificar a duplicação da contrapartida do DÉBITO,
isto é, O CRÉDITO.
Os produtores da
riqueza do país não são bobos. Logo percebem que todos seus bens (agora, depois
de cinco anos) são representados pelo dobro de papel. Com o dobro do papel só
podem comprar, em condições de estabilidade real, o mesmo que antes compravam
no baú da economia real: necessariamente, o preço determinado em unidades de
papel será o DOBRO. A este fenômeno da
economia fiduciária chamamos inflação.
Depois do exposto,
chego a conclusão que eu queria rebater: “os juros são ferramenta eficaz no
controle da inflação”. Se o BC deseja maior inflação, aumenta os juros; se
deseja zerar a inflação, zera os juros. Juros negativos tirariam dinheiro da
arca e isso a ninguém interessa. E não falo dos agiotas que eram presos nos anos pós 64 por cobrar juros de 5% ao ano.
Saudações à equipe da
radio dos ouvintes que tem opinião. O Pipoca agradece a atenção e o bom gosto
do cafezinho.
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