martes, 22 de diciembre de 2009

ONDINHAS

O causo é para ficar calado e ver como as ondinhas ondeam por todos os lados.
Com a sua permissão, meu amigo Conde, hoje hei de fazer o que poderíamos chamar uma crítica ao incriticável futuro de uma língua.
De antemão, digo lhe que lamento profundamente não dispor sobre a palma da minha mão, nem ao carão da tela cibernética, o livrinho que, pólo carinho amosado nas suas palavras, antolha se me por demais valeiro. Não lhe direi que a falta de este conteúdo é por causa do pedaço de neve que representa a minha aposentadoria, tão mirrada pelo efeito do calor global e o desamor de um Presidente. A língua é parte do meu patrimônio. Infelizmente não fará parte dos bens que deixarei aos meus netos pela via dos seus pais, meus filhos. O seu destino (a língua e demais órgãos) é o crematório da vila Alpina. Está decidido, inda que seguro não seja.
Seguindo à rabeira do seu artigo, vou entendendo que não é da língua que eu penso você fala. Vostede fala de uma particular arte de comunicação entre as pessoas. A arte de transmitir, com sons, gestos e símbolos escritos, o que a nos gostaria que outros soubessem.
Mirando o nervo de tão soberbo interes, vemos que a sua composição radica mais no tabu do misticismo que na lógica da sua gramática. Compare usted o sistema de comunicação entre pássaros de classes diferentes e verá o grande esforço que fazem para se entender quando convivem juntos. Ao final, acabam se entendendo e absorvendo o xeito uns dos outros.  Quando pia o periquito às minhas costas, já não sei se é um periquito, um agaporne ou um bem-te-ví, de esses que pousam na galhada todas as tardinhas. De outro periquito, muito mais velho e que viveu na sua juventude exclusivamente com o homem, o seu pio parece se com o assobio do seu dono.
No tema da língua, boca e bico, eu já vou indo conformado. A nossa serve para separar e guerrear, ainda que algumas vezes a usemos para bicar e amar. A dos pássaros sempre serve para amar e juntar, ainda que o bico, a modos de espada ou alfanje, também sirva para picar.
Um exemplo, meu conde, eu lhe dou com a raminha da crase. Os celtas do extremo ocidental resolveram adotar um mesmo símbolo para as idéias de artigo feminino e preposição. Ao vê-las juntas, viram que soavam como a fala de um tartamudo. Não lhes pareceu bem a fala do tatexo e resolveram diferencia-se com uma raminha colocada encima do a. Os celtas do norte inclinaram na para a direita (á); ao sul do Minho, os celtas preferiram a inclinar à esquerda (à).  Por tão singela artimanha, estes dois irmãos já não são capazes de entenderem-se quando vão à A Cruña, pois não sabem se é (a a), (à) ou (á). O causo é para ficar calado e ver como as ondinhas correm por todos os lados.

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